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Professor Celso Antunes ministra palestra sobre disciplina e indisciplina

São Paulo, SP — A primeira palestra do 8º Congresso Internacional de Educação, da LBV, foi ministrada pelo renomado educador Celso Antunes, bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Inteligência e Cognição e mestre em Ciências Humanas e integrante da Associação Internacional pelos Direitos da Criança Brincar (Unesco). O tema "Disciplina e Indisciplina em sala de aula" foi abordado em clima reflexivo e descontraído, diante do auditório superlotado.

A explanação se concentrou em demonstrar que disciplina é contrato, conjunto de regras e – por que não? – arbitragem. Assim, faz parte do dia a dia das crianças a experiência disciplinar, na prática de esportes, jogos e brincadeiras que estão, invariavelmente, repletos de regulamentos, formais ou não.

Na visão do palestrante, sem regras não há esporte, assim como não há relacionamento. Expôs também que, curiosamente, muitas vezes os educadores não conseguem reconhecer a capacidade e a naturalidade com que as crianças lidam com essas normas em seu cotidiano. Assim, a falta de clareza na comunicação e na percepção do convívio entre professores e alunos é fator que contribui consideravelmente para a indisciplina, que, numa mesma escola, nunca está presente em todas as salas de aula. Ela se manifesta pontualmente naquelas em que as regras não estão claras ou quando não há intervenção do educador no momento imediato da violação dos contratos de relacionamento.

O professor Celso Antunes defendeu que indisciplina é, hoje, erro conceitual. Muitas vezes os educadores pensam que “o motor da indisciplina” é a conversa em sala de aula, sendo que a fala é, antes, ferramenta imprescindível ao aprendizado (afinal, a invenção da linguagem impulsionou consideravelmente o progresso da Humanidade). Em suas observações, sim, existem conversas que caracterizam indisciplina; entretanto, se os alunos estão envolvidos com debates, pesquisas, na estruturação de projetos, a fala está presente e a indisciplina, não. De maneira que, em sua visão, a indisciplina hoje é antes alimentada pela inércia de alguns educadores diante dos abusos presenciados em sala de aula e não inerente à natureza dos educandos.

A visão norteadora do evento é singularizada na máxima do educador Paiva Netto — preconizador da proposta pedagógica aplicada na rede socioeducacional da LBV, a Pedagogia do Afeto e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico —, que afirma: “Quem não é capaz de assumir uma atitude correta, acaba consumido pela circunstância criada por sua omissão” (Reflexões da Alma — Editora Elevação, p. 122). Celso Antunes expôs que, se permitimos que se faça dentro da sala de aula o que não é adequado ou correto, essa permissividade levará a consequências bastante graves, para além, inclusive, da indisciplina escolar, estendendo-se também na profissional, ou nos relacionamentos, na vida em família.

Finalmente, a reflexão conclusiva do escritor foi a respeito da postura do educador na prevenção da indisciplina. Em sua visão, se o professor brasileiro acreditar que só existe uma forma de dar aula, esse único modelo condenará os alunos ao tédio; e o tédio, à indisciplina. A tecnologia avança, tudo na vida cotidiana muda, mas muitos professores continuam dando aulas como há 20, 30 anos, sem se ocuparem em gerar em seus educandos o interesse e a disposição ao aprendizado. Muitas vezes, a lacuna do aprendizado e da disciplina está na falta de ferramentas por parte do educador, ajustando o conteúdo ao que se vive no cotidiano.

O conferencista, em sua exposição, mencionou: tudo que está nos livros, tudo que se aprende, existe antes para que se viva. Em sua visão, muitas vezes os professores transmitem o conteúdo sem Alma, como uma mera repetição sem sentido. Então, não conseguem perceber que o incômodo do aluno se expressa por meio dos sinais que o educador identifica como indisciplina.

Para vencer essa distância, segundo Celso Antunes, é necessário compreender que o respeito à diversidade implica desenvolvimento e aplicação da diversidade de linguagem. Isso significa repensar constantemente o formato, a estrutura da aula, mas também o que se espera da avaliação.

O psicopedagogo, ao final, questionou: que parâmetros o professor utiliza numa avaliação para identificar se o aluno cresceu ou não? Muitas vezes o professor consegue perceber o que aluno não tem. Mas consegue captar o que ele tem?

Agradecendo a oportunidade de estar novamente em evento da Legião da Boa Vontade, encerrou suas palavras desejando o melhor andamento possível às ações do 8º Congresso Internacional de Educação, da LBV.

Ao término da palestra, Celso Antunes dedicou um exemplar de seu livro "Trabalhando valores e atitudes nas séries iniciais" ao dirigente da LBV, com a gentil dedicatória: "Ao Educador Paiva Netto um abraço e os cumprimentos de um emocionado admirador. Celso Antunes. 29.junho.2010".