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No agreste, retrato da luta contra a fome

LBV leva esperança e alimentos para Lajes Pintadas e Pedro Velho, no RN.

Pular refeições e deixar de comer certos produtos são realidades que as equipes da LBV presenciam em muitos dos municípios em que distribui cestas verdes e de alimentos não perecíveis.

Kauã Roger

    

Lajes Pintadas e Pedro Velho, duas das sete cidades visitadas no Rio Grande do Norte, revelam bem esse cenário de penúria vivido no agreste nordestino.

Nesses dois municípios, conforme registrou a revista BOA VONTADE nº 263, de setembro de 2021, a paisagem seca já mostra em si o porquê de tantas agruras. Neles, é possível ver a face cruel da fome de perto, basta observar ou conversar com boa parte de seus moradores.

Kauã Roger

    

Em Lajes Pintadas, a maioria vive do que ganha com pequenas lavouras. Sem apoio aos pequenos agricultores e com a escassez de água, pouco se consegue. Em agosto, famílias desse município e das comunidades rurais de Barros Preto, Bento Nunes, Granja, Baraúnas, Malagueta, Serra Verde, Pedra Preta, Timbaúba e Serra de Manoel Carlos foram beneficiadas com uma tonelada e meia em cestas de alimentos, kits de higiene e de limpeza, máscaras e álcool 70%, itens essenciais para a prevenção à Covid-19.  

Kauã Roger

    

O agricultor Luciano Moreira Costa (na foto acima), de 67 anos, que sobrevive da venda de carvão, foi um dos atendidos pela LBV. Com a sua pequena renda mensal, precisa suprir as necessidades de 12 pessoas em casa. Ao receber a cesta de alimentos, ele agradeceu e pediu que a equipe entrasse em seu humilde lar para ver a situação em que se encontra:

“O armário estava completamente vazio, seco, sem nada, mas Deus é maravilhoso, e eu estou hoje guardando essa comida que a LBV trouxe. O emprego acabou, o meu carvão ninguém compra mais. Várias vezes chegou a faltar o alimento aqui, e não tem como não faltar... É um dia com comida, o outro não, e comida tem de ser todo dia. Primeiro, deixamos de comer carne, hoje vamos nos mantendo com feijão, farinha, arroz e orando a Deus que isso não falte, porque, se faltar, o que vai ser de nós?”

Seu caso não é isolado no lugarejo; pelo contrário, trata-se de cena corriqueira. Em pleno século 21, as residências da localidade, a exemplo do lar de seu Luciano, são precárias, construções de taipa, com poucos utensílios domésticos e o fogão a lenha e de carvão são comuns nas  casas, por causa do alto preço do botijão de gás, inacessível para a maioria deles.

Kauã Roger

Maria Lúcia Barros, mãe de oito filhos, dos quais cinco estão vivos, agradece a todos que contribuíram para que tenha comida em sua mesa.

Para a idosa Maria Lúcia Barros, 71 anos, mãe de oito filhos, dos quais cinco estão vivos, encarar a privação de alimentos fez com que recordasse de momentos difíceis e tristes do passado, quando perdeu seu filho com oito meses de vida, em decorrência da subnutrição. Ela nos contou com lágrimas no rosto que o bebê não resistiu à alimentação escassa, pois só podia oferecer a ele caldo de manga e água com açúcar para matar a fome. Dona Lúcia recorda que ia com o esposo no centro da cidade trocar carvão por osso; ao chegar em casa, fazia caldo e, no dia seguinte, colocava os ossos no feijão, quando tinha.

“Não estudei, comecei a trabalhar na roça bem jovem, para ajudar os meus pais. Plantava e colhia algodão, limpava mato... Era muito cansativo, por causa do trabalho braçal, que é árduo”, relata. O apoio emergencial da LBV chegou na hora certa para a família dela, que agradece a todos que contribuíram para que tenha alimentação na mesa. “Em casa já estava faltando arroz, feijão, óleo, e hoje chegou essa bênção de Deus. Quero agradecer a todos pela ajuda, e que Jesus não deixe faltar o pão de cada dia a todos.”

Entre os integrantes dessa ação fraterna, a vontade de ir além do socorro, de  neste período emergencial com a entrega dos benefícios leva os voluntários a se reunir com os moradores para conversar sobre os perigos da pandemia, falar de esperança e da importância da Solidariedade para construir um futuro melhor.

E a você, que disse "SIM!" à LBV e tornou essa ação possível, nosso sincero e profundo agradecimento.


Esta reportagem, como dito anteriormente, foi originalmente publicada na revista BOA VONTADE nº 263, de setembro de 2021. Para ler outros conteúdos desta publicação, que é gratuita, clique aqui.