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Igualdade de gêneros a partir da escola

Com uma linha pedagógica que forma “Cérebro e Coração”, a LBV trabalha pelo empoderamento feminino e pela educação sobre igualdade de gêneros em todos os ambientes.

Vivian R. Ferreira

Educadora Suelí Periotto*

Há 67 anos, a Legião da Boa Vontade tem se empenhado em oferecer educação de qualidade a crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade social.

As ações socioeducacionais da LBV vem promovendo significativas mudanças na condição de vida de indivíduos em situação de pobreza, particularmente de mulheres e meninas, que compõem a maioria do público atendido pela Instituição. Elas são as mais presentes em cursos profissionalizantes, bem como em palestras educativas sobre saúde, sexualidade, empreendedorismo e outros temas da atualidade ligados ao cotidiano familiar. Falar da igualdade de gêneros é muito importante na área socioeducacional.

Se os cursos oferecidos pela Organização representam uma mudança positiva na situação financeira dessas mulheres (muitas vezes responsáveis por manter o sustento do lar), o destaque no impacto em suas vidas pode ser mais amplamente estabelecido quando, ainda meninas, ingressam nas escolas da rede da LBV e recebem ensino de qualidade aliado a valores espirituais, éticos e ecumênicos, proposta que norteia a Pedagogia do Afeto (direcionada às crianças de até os 10 anos) e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico (a partir dos 11 anos de idade).

Leandro Nunes

Fortaleza, CE - Em atividade, atendidas pela LBV na capital cearense exibem seus trabalhos feitos no programa Vivência Solidária

Pedagogia do Afeto ligada a igualdade de gêneros

Essa linha educacional, criada pelo dirigente das Instituições da Boa Vontade, o educador José de Paiva Netto, estabelece um currículo diferenciado ao promover o desenvolvimento intelectual unido à Espiritualidade Ecumênica*, aliando, assim, raciocínio e sentimento na prática das aulas/atividades. Mesclar conteúdo pedagógico com fatos do cotidiano e abrir discussões que reforcem uma postura assertiva de enfrentamento em caso de assédios, preconceitos e outras situações discriminatórias são estratégias utilizadas pelos professores com alunas e alunos das unidades educativas da LBV.

Prática nas escolas 

Raquel Diaz

A igualdade de gênero é continuamente discutida nas escolas da Instituição em atividades que debatem e esclarecem os alunos sobre seus direitos, os quais precisam ser conhecidos destacadamente pelas meninas. No dia a dia, isso ocorre de muitas maneiras. Uma das mais frequentes se dá com a pesquisa de temas diversificados. Essa troca de ideias propiciada pelo material levantado, mediada pelos educadores, funciona como verdadeiro momento de capacitação pessoal e apropriação de conhecimento, preparando os estudantes para uma reação positiva diante de situações que possam surgir na realidade da vida deles.

Na aplicabilidade dessa proposta, o destaque tem sido o bom relacionamento que surge entre os dois lados. Os alunos costumam socializar o conteúdo que pesquisam (como a Lei Maria da Penha* e outros temas que abordam a defesa das mulheres), de modo que os meninos se apossam do assunto e incorporam uma postura protetora no tratamento das meninas/colegas, estabelecendo um ambiente de respeito e dignidade, necessários e importantes para o bom convívio em sociedade e que, por isso, devem ser cultivados dentro e fora da sala de aula, inclusive em relação às suas futuras companheiras. Tais discussões também ampliam a percepção dos rapazes quanto a igualdade de gêneros e ao papel esperado de proteção às suas mães e irmãs, até mesmo como divulgadores de providências que tenham de ser tomadas em caso de violência doméstica, estupro, discriminação ou quaisquer outras formas de tratamento desrespeitoso que desmereçam o gênero feminino.

Patricia dos Santos

Uberaba, MG — Quadro pintado por adolescentes atendidas pela Legião da Boa Vontade retratam a luta pela igualdade de gênero.

Assim, à escola cabe indicar caminhos intelectuais de coleta de informação, sem descuidar da imprescindível formação dos estudantes. Sem conhecimento intelectual e autoconhecimento firmados pelos direitos que as leis legitimam, não serão alcançados a mudança e a igualdade de gêneros que se esperam para ambos os sexos, vítimas de situações adversas.

 Os conceitos educacionais apontados pela proposta pedagógica da LBV convidam-nos a refletir sobre o incentivo ao fortalecimento interior dos estudantes, resultante de uma sólida base que lhes seja oferecida no ambiente escolar (além do familiar). Do interior de cada um é que surgirá a força necessária a um posicionamento crítico e proativo diante de situações que os ameacem. Não é por acaso que a metodologia própria das escolas da Entidade, o Maprei (Método de Aprendizagem por Pesquisa Racional, Emocional e Intuitiva), incentiva o falar e oportuniza a abordagem de quaisquer temáticas mediadas pelos educadores em sala de aula.

É urgente Reeducar!

No seu livro É Urgente Reeducar!, o educador Paiva Netto escreve acerca do trabalho da Obra, afirmando que “(...) o que a LBV propõe é um extenso programa de Reeducação. E é o que vimos realizando dentro de nossas possibilidades, procurando despertar o interesse de tantos idealistas, que, como nós, não acreditam na fatalidade de destinos permanentemente condenados à desgraça, por questões sociais, políticas, religiosas, étnicas...”. Não se empodera um estudante apontando somente os caminhos da intelectualidade. Cada indivíduo possui sua integralidade, e é preciso equilibrar sua formação racional com um coração imbuído de bons sentimentos (como defende o criador dessa proposta pedagógica), que o leve ao desejo de vivenciar um mundo justo, não permitindo, nem para si nem para os outros, que a ignorância seja entrave às possibilidades da transformação tão necessária às gerações que academicamente se preparam para ocupar função ativa na sociedade.

Leilla Tonin

A campanha Pequim+20 — Empoderar as Mulheres. Empoderar a Humanidade. Imagine!, lançada em comemoração do 20º aniversário da histórica Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres, realizada pela ONU Mulheres, convida os segmentos da sociedade ao reforço desse papel de proteção e de capacitação das meninas e mulheres do mundo todo. Fortalecidas no ambiente escolar com informações sobre os caminhos legais a serem percorridos no caso de diferenciadas formas de maus-tratos e/ou abusos recebidos, elas podem sonhar e, mais que isso, são capazes de determinar um melhor futuro ao sentirem-se mais protegidas por meio de uma escolaridade que lhes permita sair do ciclo de pobreza, que muitas não conseguem se livrar pela falta de preparo acadêmico. Instrumentalizar meninas com estudo e capacitação profissional aponta favoráveis perspectivas de prática dos direitos humanos, com sua voz ativa na mídia e sua interferência em questões como meio ambiente e economia. Traz, ainda, a possibilidade de caminhos que lhes permitam acesso ao poder e a uma liderança política e/ou profissional.

A igualdade de gêneros é continuamente discutida nas escolas da Instituição em atividades que debatem e esclarecem os alunos sobre seus direitos, os quais precisam ser conhecidos destacadamente pelas meninas.

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*1 O educador Paiva Netto é autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, para ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno”.

*2 Batizada como Lei Maria da Penha, em homenagem à farmacêutica bioquímica maria da Penha maia Fernandes, cuja história de vida inspirou a nova legislação, a Lei no 11.340, sancionada em 7 de agosto de 2006, criou mecanismos mais rígidos para coibir e prevenir a violência contra a mulher, além de introduzir mudanças no Código Penal e na Lei de Execuções Penais.

* Matéria escrita por Suelí Periotto, supervisora da Pedagogia do afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico e diretora do Instituto de Educação José de Paiva Netto, em São Paulo/SP. É doutoranda e mestre em educação pela PUC-SP, conferencista e apresentadora do programa Educação em Debate, da Super Rede Boa Vontade de Rádio.