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Educação para todos

Com metodologia inovadora e tecnologias sociais, a LBV atende alunos com diferentes necessidades educacionais.

Vivian R. Ferreira

A marca de todas as ações socioeducacionais promovidas pela Legião da Boa Vontade (LBV) encontra-se nos conceitos da Pedagogia do Afeto (destinada a crianças de até os 10 anos de idade) e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico (aplicada a partir dos 11 anos), que compõem a linha educacional criada pelo diretor-presidente da Instituição, José de Paiva Netto. Nelas, o ser humano é considerado em sua integralidade, portanto, um Espírito Eterno, portador de bagagem espiritual e cultural.

Vivian R. Ferreira

Suelí Periotto é supervisora da Pedagogia do afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico e diretora do Instituto de Educação José de Paiva Netto, em São Paulo/SP. Doutora e mestre em educação pela PUC-SP, também atua como conferencista.

Assim, na proposta de Educação com Espiritualidade Ecumênica, da LBV, o indivíduo é motivado a se perceber plenamente capaz de realizar aquilo que deseja, tendo sempre como princípio o seu crescimento e o bem da coletividade. Para isso, é encorajado continuamente pelos educadores da Entidade a desenvolver o potencial único que possui dentro de si, o qual, muitas vezes, não consegue identificar sozinho.

Nesse trabalho realizado na rede de escolas e nos Centros Comunitários de Assistência Social da Organização, deparamo-nos com situações diversificadas e, em muitos casos, desafiadoras no auxílio a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Muitas das dificuldades enfrentadas pelos nossos atendidos ultrapassam aspectos socioeconômicos, sendo, então, necessário também oferecer a eles e às suas famílias suporte psicológico, a fim de que os pais se tranquilizem por seus filhos estarem emocionalmente amparados todo o tempo.

Além da intervenção dos nossos profissionais, os responsáveis dessas crianças também são orientados em diversos casos a encaminhá-las a especialistas externos, de modo que sejam devidamente apoiadas, dentro e fora de nossos ambientes.

A equipe multidisciplinar da Instituição é acionada sempre que em sala de aula o professor detecta que um aluno está com dificuldade na interação ou na aprendizagem, fatores que podem impactar negativamente o rendimento escolar dele ou sua socialização com os demais colegas. Esses profissionais organizam, então, o suporte necessário que o ajudará a enfrentar esse momento difícil de sua vida.

Foi a partir dessa demanda que, em 2008, a Entidade passou a contar com uma estrutura a mais em seu atendimento: o Programa LBV — Potencializando Habilidades (PPH). A iniciativa tem o propósito de acompanhar o desenvolvimento pedagógico, emocional e social dos alunos com necessidades educacionais diferenciadas, promovendo estratégias e adaptações que os ajudem no aprendizado dos conteúdos curriculares.

COMO O PROGRAMA É APLICADO?
Do Centro Educacional da Legião da Boa Vontade, no Rio de Janeiro/RJ, a coordenadora do PPH, Andreia de Jesus, especialista em Neurociência Pedagógica, ressalta os avanços alcançados pelos estudantes com o programa da LBV, como é o caso de J.C.S. (cujo nome é aqui omitido para preservar a identidade da aluna), de 14 anos, acometida por hidrocefalia obstrutiva. Desde que começou a participar do programa — que incentiva o auxílio colaborativo dos colegas por meio de uma Monitoria Solidária, que a tem ajudado a estudar os conteúdos das disciplinas —, a jovem tem apresentado avanços cognitivos: “Esse apoio a mais que a LBV está me dando na escola é o que eu estava precisando”, agradece a aluna.

A educadora comenta que a utilização de tecnologias assistivas (ou seja, qualquer tipo de ferramenta, material, metodologia e recursos que ajudem a estimular a autonomia da criança) reforça o desenvolvimento do educando em todas as etapas de sua trajetória escolar: “Utilizamos recursos de fácil acesso. Por exemplo, em uma turma do Maternal II (crianças com 3 anos de idade), um aluno com Síndrome de Down está em processo de desfralde e precisa ter um estímulo maior dos canais sensoriais, neste caso o visual, porque [crianças com esse perfil] aprendem bastante utilizando modelo. Então, inserimos no banheiro da turma um quadro de incentivo, no qual há estímulos especificamente visuais. Ele está se encaminhando muito bem com essa estratégia, e acreditamos que conseguirá terminar o ano letivo com seu desfralde feito de forma bem tranquila”, afirma.

Ao longo desses 11 anos do PPH, inúmeras barreiras foram vencidas pelos estudantes e por suas famílias: muitos conseguiram concluir a Educação Básica; alguns, ainda cursando, comemoram, por exemplo, o primeiro boletim com notas acima da média. L.M., de 17 anos, aluna do Conjunto Educacional Boa Vontade (formado pelo Instituto de Educação José de Paiva Netto e pela Supercreche Jesus, em São Paulo/SP), é um desses estudantes.

Recentemente, após obter bons resultados no Instituto da LBV, fez questão de abraçar cada um daqueles que enxergaram nela potencial nesses anos todos nos quais estuda na Instituição, em que tem vencido, a cada dia, suas batalhas na aprendizagem. Emocionada, ela conta que está muito feliz, pois hoje consegue se organizar para cumprir, dentro do prazo, as atividades pedagógicas. A estratégia que adotou consiste em anotar cronologicamente em seu caderno as datas das entrega dos trabalhos e os dias em que precisa estudar para as provas, o que tem lhe dado autonomia e a percepção do que precisa ser realizado.

Diego Ciusz

DESTAQUE NA IRLANDA E EM FESTIVAL DE INOVAÇÃO NO BRASIL
Esse trabalho da LBV tem sido apreciado por diversos segmentos, inclusive por representantes de empresas, como foi o caso dos participantes do Whow! Festival de Inovação, uma iniciativa do Grupo Padrão, que chegaram à escola interessados em conhecer as atividades lúdicas (jogos) adaptadas para a Educação Inclusiva. Pela Visita Criativa, uma das vertentes do evento, os integrantes do grupo que estiveram no local assistiram à apresentação da mestre e doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento Leilany Rocha acerca das etapas do Programa LBV — Potencializando Habilidades.

Na oportunidade, os visitantes puderam, inclusive, degustar jogos que são direcionados às crianças com necessidades educacionais especiais, com a proposta de estimular suas funções executivas. “Nessas funções que envolvem o córtex pré-frontal, temos as habilidades, principalmente, das funções executivas, responsáveis, entre outras coisas, pela execução de tarefas e pela regulação das emoções. Então, essa área do cérebro é muito estimulada quando os participantes do jogo estão fazendo atividades que exigem essas habilidades. (...) A mediação é fundamental, porque ajuda no processo de construção do conhecimento”, afirmou a psicopedagoga Leilany.

Arquivo Pessoal

Da esquerda para a direita: Maria Suelí Periotto, supervisora da Pedagogia do Cidadão Ecumênico e da Pedagogia do Afeto, da LBV; professor Trevor O'Brien, membro do departamento de Psicologia Educacional e Educação Inclusiva e Especial da Mary Immaculate College; Rosana Bertolin, professora da LBV; e Aline Trevisan e Gisela Portilho, vice-diretoras da escola da Legião da Boa Vontade.

O PPH da LBV também chamou a atenção do educador irlandês Trevor O’Brien, membro do Departamento de Psicologia Educacional e Educação Inclusiva e Especial da Mary Immaculate College, da Irlanda, e formador de professores que atuam com alunos da Educação Especial em seu país. Em sua passagem pelo Brasil, por indicação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ele conheceu o Conjunto Educacional Boa Vontade.

Admirado com o trabalho que a LBV realiza em sua rede de ensino, convidou a Instituição a apresentar, no Centro de Educação de Cork, na Irlanda, as suas boas práticas pedagógicas na Educação Básica. Os professores, diretores e inspetores de Educação Especial daquele país que participaram do workshop da LBV mostraram-se entusiasmados em aplicar nas escolas da cidade de Cork e de Limmerick o que conheceram durante o evento.

Vale destacar que a presença da Legião da Boa Vontade na Irlanda foi pauta do programa Um fato, duas visões, da referida universidade, apresentado pelas doutoras Neide de Aquino Noffs, vice-diretora da Faculdade de Educação da PUC e coordenadora do curso de Psicopedagogia, e Márcia Batista, diretora da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC-SP. Na ocasião, eu pude representar a LBV e ouvir comentários das duas professoras quanto à iniciativa da Entidade. “Lembrando das visitas que fiz à escola da LBV, vocês não trabalham só em sala de aula. Os alunos têm muitas atividades, esporte. (...) Uma escola de qualidade, uma educação especial não se aprende só dentro da sala de aula, tem que ter várias outras alternativas propostas pela própria unidade de ensino”, ressaltou a professora Neide.

Arquivo Pessoal

Felizes, educadores participaram da palestra da LBV sobre sua linha pedagógica inovadora aplicada com sucesso em sua rede de ensino no Brasil e no exterior.

Da mesma forma, comentou a educadora Márcia acerca das estruturas dos colégios brasileiros e dos recursos humanos que os integram: “(...) Não é só dispor de recursos didáticos, é [preciso] também mobilizar esse professor para que ele compreenda o que é ter uma criança surda [em sala de aula]. Eu falo um pouco disso porque, como diretora da faculdade, eventualmente percebo a dificuldade do professor de aceitar algumas limitações do estudante: ‘Imagina... Aquele aluno querer ser psicólogo?!’

Concordamos com a doutora Márcia: os educandos podem exercer qualquer profissão, desde que os apoiemos e estejamos junto deles, incentivando-os a cursar a faculdade almejam! E que não falte a eles a presença de profissionais sérios, devidamente capacitados a orientá-los.

Esse tem sido, há décadas, o mote do educador Paiva Netto na condução da proposta pedagógica da Entidade, cada vez mais compartilhada com profissionais de escolas públicas e privadas e também em eventos, como o Congresso Internacional de Educação da LBV (que ocorre anualmente no Brasil e bienalmente em Portugal). As diretrizes para os professores da Legião da Boa Vontade são específicas: buscar o potencial existente em cada ser humano, como corresponsáveis pelo seu desenvolvimento. Concomitantemente aos cuidados no reforço aos aspectos cognitivos dos estudantes, o dirigente da LBV propõe que dediquemos atenção, também, aos seus sentimentos, conforme estas suas pertinentes palavras, publicadas em seu livro É Urgente Reeducar!:

“Reclama-se bastante da violência nas escolas, mas se o estudante vai para lá aprender a expandir o próprio raciocínio com o intuito de absorver as lições necessárias à sua formação técnica, paralelamente — sem nunca esquecer o espírito de disciplina — o cuidar melhor possível do sentimento deve ser levado na devida consideração. O afeto para as crianças e o respeito aos jovens são semelhantes a uma máquina funcionando: em uma parte das rodas dentadas, a mente, a lógica; em outra, a Alma, o sentir, que nos impede de nos tornar cada vez mais selvagens! Ora, os dentes da roda vão se encontrando e fazendo o mecanismo girar. Contudo, se você não põe nessa engrenagem o óleo da Fraternidade, da Solidariedade, da Misericórdia, da Compaixão, tudo grimpa, trava, cria ferrugem e entra em falência!”

Promover ações educacionais efetivas e inclusivas é, para a Legião da Boa Vontade, maneira eficiente de empoderar crianças e jovens, ao oferecer-lhes os cuidados devidos para o desenvolvimento da intelectualidade e o cultivo dos valores éticos, ecumênicos e solidários, fundamentais nas relações humanas.