Crianças se tornam escritoras na LBV
O papel das escolas da LBV na formação de novos leitores e na conquista da liberdade de expressão.

A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, edição de 2020, mostra que 48% da população com mais de 5 anos não havia lido nenhum livro nos últimos três meses. Mas não se desanime com esses números; segundo especialistas, entre eles educadores e profissionais da área editorial, é possível reverter esses dados, quando se aposta nessa mudança de hábito desde criança. E a edição nº 288 da revista BOA VONTADE, de outubro de 2023, aproveitou para trazer alguns benefícios dessa prática e sugestões de como pais e professores podem incentivar o gosto por ler e escrever de maneira natural e prazerosa.
Em uma das salas do Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP, a reportagem da revista, entre uma aula e outra, conversa com a professora Márcia Guimarães e Santos, de de Língua Portuguesa, responsável pelo desenvolvimento do Projeto sou escritor, da LBV, com alunos do 5º ano da referida escola. A iniciativa, aplicada há seis anos na Instituição, é uma das várias incentivadas pela rede educacional da Legião da Boa Vontade para a formação literária e cultural das novas gerações.
Nesse projeto, a aposta é que todos recebam os recursos necessários para passar para o papel as histórias criadas por eles mesmos, evidenciar a liberdade de expressão e a autonomia de cada estudante para ilustrar a própria obra. O importante é despertar a leitura, o que potencializa as capacidades de pensar, compreender e criar. No método elaborado há 18 anos por professores da Entidade, o primeiro passo para estimular essa habilidade criativa é apresentar aos educandos os variados gêneros literários. Na sequência, eles pesquisam temas e, numa terceira fase, a garotada socializa suas ideias, recebendo um retorno dos colegas.
“Eles fizeram leituras individuais e compartilhadas de contos e, a partir daí, começaram a entender que os escritores têm finalidades e objetivos ao escrever os livros. A ideia dessas atividades é dar asas à imaginação deles. (...) O interessante é que cada um foi por um caminho quando se propôs a escrever; alguns discorreram contra a prática do bullying, outros, sobre violência nos esportes, também contra a violência da mulher, desmatamento, meio ambiente... E ficou muito interessante, um trabalho gostoso de fazer e enriquecedor”, conta Márcia.
Neste ano, a primeira etapa do projeto ocorreu no mês de maio e, no período de férias, os educandos levaram um roteiro para casa a fim de criar um objeto mágico que os ajudasse durante o desenvolver da história a resolver a questão por eles levantada. A imaginação deles surgiu com força total na escrita e nas ilustrações que produziram. “No início, tive alunos que falaram: professora, eu não vou conseguir, mas o compartilhar do material de outros colegas deu segurança, e hoje eles dizem: ‘Eu consegui’. Isso me dá muito orgulho”, recorda a educadora.
FORMANDO CIDADÃOS ATIVOS
A tecnologia é contemplada também; os alunos digitam os seus livros, encaminham textos e ilustrações à professora que, por meio de softwares específicos, compartilha o material on-line à gráfica para a finalização do título literário. “É um projeto para a vida inteira. Quando eles colocam no papel uma história, criam personagens, fica nítido um aprendizado, um amadurecimento. Para escrever, você precisa ser leitor e vice-versa. Quando se é um bom leitor, escreve bem; são habilidades que precisam estar atreladas desde a infância até a vida adulta”, destaca.
E conclui a professora Márcia, ao refletir sobre a formação oferecida pelas unidades de ensino da Legião da Boa Vontade: “Os alunos passam a entender que o livro é uma porta para a liberdade de expressão, liberdade de fala e de pensamento, na qual você pode criar a sua essência. A ideia da nossa escola é mostrar que você pode ser quem quiser, ter um futuro que desejar”.

A OPINIÃO DE QUEM PARTICIPOU DO PROJETO
“O tema do meu livro é a fome, eu quero mudar essa situação no planeta. Pensei vários dias, fiz dois esboços até chegar ao resultado final que está lá nas folhas. Aprendi a não reclamar da comida que tenho em casa, pois pensar que há pessoas que, se ganhassem pelo menos um pouquinho de arroz, iam ficar muito felizes, muda a gente. [Esse projeto] me fez entrar no mundo do leitor. E a leitura traz coisas novas para você; quando menos se espera, ela ajuda você no dia a dia.”
Pedro Jorge Santos Cardoso, 10 anos
Estudante do Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP
“Estava ansiosa para saber se ia dar certo. Fiquei muito feliz em escrever o livro; usei a minha imaginação. Quero trabalhar [um dia nessa área], tem tantas coisas para eu escrever.”
Manuela Ramos, 9 anos
Aluna da escola da LBV no Rio de Janeiro/RJ
“Eu estava assistindo à TV e me deparei com um caso de violência no esporte e resolvi escolher esse tema. Foi legal porque pude opinar sobre o que vejo na atualidade e que acaba afastando as pessoas do esporte. Acho que quero ser jornalista e contribuir para mudar [essas situações]; o projeto despertou em mim essa habilidade, que eu não sabia que tinha, [além] de ajudar a falar mais do que sinto.”
Miguel Sousa Silva, 10 anos
Aluno do Instituto de Educação da LBV na capital paulista